A VOZ DO DEUS INTERIOR
"Vós Sois Deuses!" (João 10:34)
Era uma vez um senhor mendigo,
que, de modo bem solidário,
fez o consolador favor, a um antigo
e empreendedor milionário.
Pensando em atentar contra a sua vida,
o ser abastado, porém tão deprimido,
perambulando devagar, sentiu a ferida
doer um bocado, em seu coração sofrido.
Parou ofegante, no poste dum cruzamento,/tentando recuperar a força que se dissipava,/acatou, num instante, um suporte do alento/de um cidadão que em seu ombro tocava...
Assustado, ele olhou para o ajudante
desconhecido, que lhe indagou
intrigado: "Posso lhe falar um instante?
O homem sofrido concordou.
E ouviu a história narrada, de forma poética, pelo inspirado ser, desconhecido e solidário,/que surgiu, como simplória norma médica,/de apelo acertado, ao empobrecido milionário.
"Vejo no seu semblante
a tristeza e a desesperança
e prevejo, neste instante,
com certeza, sua mudança.
Eu conheço em outrem
o que já senti, outrora.
E lhe ofereço um bem
que recebi, em boa hora.
No deserto, onde perambulei,
durante longa temporada,
se, por certo, eu me alimentei,
foi gratificante a jornada.
O maná, bem recebido com gratidão,
por mim, fortaleceu a minha alma.
Por lá, segui, sem gemido, em oração,
enfim, e Deus me deu força e calma.
Agora, nem sei por qual merecimento,/eu permanecerei no lugar certo que preciso./ Se outrora superei infernal sofrimento,/ deixei de andar no deserto: estou no paraíso!
Às pirraças da solidão, dei adeus.
Tenho tudinho o que sempre quis.
Graças a oração, encontrei a Deus
e me empenho num caminho feliz.
O Deus do qual eu lhe falei, em verdade,
não é o mesmo adorado pelos hipócritas
fariseus. Afinal, eu sei que sem Divindade
no coração, a esmo, eu fiz apelos idiotas.
O que me ajudou foi o Deus interno
e bom,/existente no interior de nós todos.
Ele me livrou dos fariseus e do inferno,/ do som presente no furor algoz dos engodos.
Livre-se do mal também.
Desperte, avante, levante-se sozinho.
Prive-se, afinal, do desdém
da peste, em seu triunfante caminho!"
Ao escutar as derradeiras frases/de advertência do desconhecido solidário,/ e despertar das verdadeiras fases/da sonolência que havia caído, o milionário,/que dormiu como um enfadonho miserável,/acordou disposto a seguir, com toda calma,/o ensinamento que ouviu no sonho admirável/e continuou, com gosto, a ouvir na sua alma...
Moral da história: Se cansamos
e acolhemos em nós o sono reparador,
afinal, na memória, guardamos,
se merecemos, a Voz do Deus Interior.
Paulo Marcelo Braga
(Salvaterra, 26/05/2025)